sábado, 18 de dezembro de 2010

ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL


Matérias / Igreja

Matrículas sempre abertas

Escola Bíblica Dominical enfrenta crise, mas ainda é vista como elemento fundamental da Igreja Evangélica.

Por Tatiana Piva

Domingo é dia de escola! Pelo menos, para milhões de crentes que saem de suas casas no chamado dia de descanso a fim de aprender a Palavra de Deus. A Escola Bíblica Dominical (EBD) é a maior e mais democrática instituição de ensino do mundo. Ela abre suas portas a qualquer pessoa, independentemente de idade, classe social ou nível de instrução. Gratuita, oferece a todos a oportunidade de ampliar seus horizontes de conhecimento e espiritualidade. É ali que muita gente senta-se pela primeira vez em um banco escolar, e é nela que pessoas sem qualquer instrução formal podem tornar-se mestres. Além disso, a EBD está diretamente ligada à história das igrejas evangélicas no Brasil, já que foi implantada ainda em meados do século 19, época em que as primeiras denominações protestantes de missão chegaram ao país. Pode-se dizer que a Igreja Evangélica, por aqui, nasceu de mãos dadas com a Escola Dominical.

Até o início da década de 1980, quando a liturgia das igrejas históricas ainda predominava, a EBD era tão cara ao domingo quanto o próprio culto público, a ponto de se apropriar naturalmente da nomenclatura “dominical”. Em inúmeras congregações, as atividades matinais concentram-se no estudo bíblico, conferindo à Palavra de Deus um papel de centralidade na vida dos crentes. Sempre houve discussões quanto à pedagogia e ao conteúdo, é verdade; mas, a despeito do formato e das metodologias aplicadas, matricular-se em uma das classes era o que se esperava de todo e qualquer membro da congregação, fosse veterano ou novo convertido.

Todavia, por volta de trinta anos atrás, teve início uma espécie de crise. Algumas denominações mais novas, notadamente as de linha neopentecostal, acharam por bem substituir a boa e velha Escola Dominical por outras atividades, ou simplesmente aboli-la. A justificativa, correta em parte, era de que o modelo estava desgastado. Em muitas igrejas, de fato, as manhãs de domingo transformaram-se em enfadonhos encontros, onde temas com pouca conexão com a realidade e a vida dos crentes eram abordados. Mas a pergunta é: por mais que a EBD precise de renovação e dinamismo, alguém conseguiu inventar coisa melhor? Se depender das igrejas mais tradicionais, a resposta é a mesma – ou seja, um retumbante “não”. Muitas denominações continuam adeptas do modelo tradicional de Escola Dominical e reiteram que seus frutos são benéficos aos cristãos, mesmo em pleno século 21, época de tantas modernidades. “Acredito que ela é a mais importante agência de aprendizado bíblico e de evangelização da Igreja”, afirma Rute Bertoldo Vieira Moraes, pastora, redatora e coordenadora do Departamento Nacional de Escola Dominical da Igreja Metodista. “Muitas igrejas surgiram a partir da EBD, especialmente através do trabalho com crianças”, confirma.

Material abundante­ – Não existem estatísticas, nem mesmo denominacionais, para indicar se a frequência à Escola Dominical está mesmo em queda, como se queixam tantos pastores e educadores cristãos. Mas ninguém tem dúvidas de que a instituição esta longe da extinção. E, mesmo não sendo uma unanimidade, ela continua contando com forte apoio entre os evangélicos. Segundo a teóloga Lilia Dias Marianno, mestre em ciências da religião e assessora do Departamento de Educação da Convenção Batista Brasileira (CBB), as pessoas podem estar desacreditadas da igreja, mas não das Escrituras. “O amor pela Bíblia está aumentando nesses últimos dias”, entusiasma-se. “Mas há muitas igrejas que não estão vivendo a Palavra de Deus e, por isso, também não conseguem suprir a necessidade das pessoas”, opina. Por essa razão, variados ministérios seguem investindo na EBD como principal ferramenta de discipulado. Uma das maneiras encontradas para se fazer isso tem sido através das editoras das próprias denominações, as quais têm colaborado com a publicação de materiais e organização de eventos para formação de professores.

A Assembleia de Deus, maior confissão evangélica do país, constitui o melhor exemplo. A Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), sediada no Rio de Janeiro, não apenas produz vasto material para alunos e professores das mais diferentes classes, como também promove encontros nacionais para educadores. Esses congressos, de grande porte, atraem professores e dirigentes de ensino bíblico de diversas denominações, interessados no know-how de uma igreja que já caminha para 100 anos de fidelidade às Escrituras. Outras instituições eclesiásticas fazem o mesmo, elaborando e publicando o próprio material educativo. As igrejas batistas contam com a Junta de Educação Religiosa e Publicações (Juerp); já a Editora Cultura Cristã é responsável pelas lições dos presbiterianos; e as igrejas metodistas também dispõem de material próprio de EBD. Em todos os casos, os currículos são elaborados de acordo com a ortodoxia da doutrina cristã e as particularidades teológicas de cada grupo.

“Preparamos uma matriz que apresenta a divisão dos temas, sua distribuição e seu detalhamento ao longo dos anos”, explica Cláudio Antônio Batista Marra, teólogo, jornalista e editor da Editora Cultura Cristã, de São Paulo. A casa edita e distribui material eclesiástico, respeitando cada fase do desenvolvimento etário e espiritual de seus fiéis, de modo que os alunos possam aprender e aplicar os ensinamentos na vida prática. “As idades são agrupadas em faixas para viabilizar a criação do material, sua comercialização e uso”, diz o editor. Hoje em dia, a diversidade de bons materiais é tanta que, mesmo entre as igrejas históricas, congregações locais muitas vezes optam por trocar o material da casa publicadora denominacional por lições de outras editoras, por entender que é mais adequado àquele momento – isso, quando não o produzem internamente.

Quem oferece essas lições sem traços teológicos ou eclesiológicos específicos de uma denominação precisa manter duas preocupações: com o preço final – as publicadoras independentes não contam com subsídios de igrejas, e por isso precisam produzir lucro para continuar funcionando – e com a qualidade do conteúdo. “Isso exige uma postura de vida tanto corporativa quanto individual orientada pelo paradigma da grande missão da Igreja”, afirma André de Souza Lima, editor assistente da Editora Cristã Evangélica. “Ou seja, existimos para ensinar os discípulos de Cristo a guardar todas as coisas.”

“Alimento nutritivo” – “Se a Escola Dominical fosse mais promovida, teríamos uma Igreja quatro vezes maior”, pontifica o pastor e professor Antônio Gilberto, da Assembleia de Deus, um dos mais respeitados educadores cristãos do país. Formado em psicologia, teologia, pedagogia e letras, Gilberto tem 56 anos de experiência na área e é autor de sete livros, entre eles o Manual de Escola Dominical (CPAD), considerada obra de referência. No entender de Gilberto, muitas igrejas têm sofrido com problemas devido à pouca importância que dão ao estudo da Palavra. Defensor intransigente da EBD clássica – aquela que se realiza ao menos uma vez por semana, envolvendo toda a igreja, com métodos de ensino e conteúdo –, o veterano mestre anda preocupado com o que vê no cenário evangélico brasileiro. “As igrejas precisam se conscientizar de que a educação bíblica é um investimento que merece lugar entre as prioridades da igreja”, sentencia.

Algumas denominações de surgimento mais recente, no entanto, parecem dispostas a quebrar o modelo clássico e oferecer a seus fiéis algo que entendem mais contextualizado como prática educacional e de discipulado. É o caso da Igreja Renascer em Cristo, com a sua Escola de Profetas, mais voltada para a formação de liderança. Já a Igreja Bola de Neve – denominação criada por surfistas evangélicos e que tem membresia predominantemente jovem –, por sua vez, mantém um ministério voltado para o estudo da Bíblia chamado Mergulhando na Palavra, de natureza mais informal.

De maneira geral, são duas as principais críticas às iniciativas que diferem da EBD convencional: a primeira diz respeito à confiabilidade do conteúdo ministrado; e a outra se concentra na falta de uma estrutura que contemple as necessidades específicas de cada grupo dentro da igreja. O modelo em células, por exemplo, é rejeitado por muitos especialistas religiosos no que se refere ao discipulado. Para Lilia Dias Marianno, esse modelo muitas vezes se limita a reproduzir aquilo que é dito pelo pastor nos cultos durante as reuniões na semana. “O modelo de células não produz conhecimento bíblico. Nele não há estudos consistentes das Escrituras”, critica.

Há ainda as denominações que nem mesmo possuem algo que substitua a EBD, limitando a transmissão do conhecimento bíblico às pregações nos cultos. É o caso, por exemplo, das igrejas de linha neopentecostal, comoUniversal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus e a Internacional da Graça. Procuradas pela reportagem de CRISTIANISMO HOJE para dar informações a respeito do assunto, seus representantes não haviam se pronunciado até o fechamento desta edição. Como investem fortemente em mídia, principalmente em rádio e televisão, igrejas dessa linha atraem milhares de pessoas a seus templos, promovendo cultos todos os dias da semana. Mas muita gente discorda que tais ajuntamentos constituam uma forma de discipulado. “O culto é celebração, não ensinamento. O espaço de ensino bíblico é outro momento. Na Escola Bíblica Dominical, são formados discípulos; é o momento de o povo leigo sentar, estudar e buscar conhecimento”, opina Lilia.

A questão não se resume à consistência do alimento espiritual; ela passa também pela maneira como esse conteúdo é apresentado. A concorrência pela atenção do membro da igreja é forte. “Hoje em dia, as igrejas sofrem com a falta de interesse dos membros pelo estudo da Bíblia, pois existem outros atrativos mais interessantes, como louvor, festas e confraternização, sem falar na ênfase nos milagres e na solução rápida de problemas, elementos com alto apelo sensorial”, afirma Silas Davi Santos, professor de EBD dos jovens da Igreja Metodista em Itaberaba (SP). No seu entender, o verdadeiro estudo da Palavra segue na contramão disso, pois exige tempo, disciplina e dedicação. “A Escola Dominical pode e deve ajudar o cristão e aluno a manter o foco na Palavra, fomentando os ensinamentos de Jesus para que não se desvie por caminhos errados.”

Escola para a vida

A Escola Bíblica Dominical tem certidão de nascimento. Ela surgiu em 1780, na cidade inglesa de Gloucester. O jornalista evangélico Robert Raikes percebeu que muitas crianças da cidade estavam envolvidas com furtos, vícios e outros delitos. Resolvido a tentar mudar aquele quadro de perigo social, saiu pelas ruas e convidou os pequenos que encontrou a participar de uma reunião aos domingos, na qual seriam oferecidas aulas de alfabetização, linguagem, gramática, matemática e religião. As crianças ficaram muito empolgadas e a participação foi crescendo. Em pouco tempo, os alunos não aprenderam lições apenas sobre a Bíblia, mas também acerca de moral e ética com princípios cristãos. O próprio Robert Raikes jamais poderia imaginar que aquela pequena semente se tornaria um ministério importante e estratégico para a Igreja de Cristo, oferecendo a cada crente a oportunidade de – como recomenda a própria Bíblia – conhecer e prosseguir em conhecer as Sagradas Escrituras.

Nos Estados Unidos, um dos maiores entusiastas do ensino bíblico era o editor e evangelista Dwight L.Moody. A escola dominical que montou em Chicago foi a maior de sua época, com frequência média de 650 pessoas e sessenta professores. Assim como Raikes, Moody deu especial atenção à formação cristã das crianças. Sua EBD infantil atendia a quase mil meninos e meninas, além de suas famílias. Como sinal do prestígio de seu trabalho, até o presidente americano Abraham Lincoln visitou suas instalações e falou aos alunos. O trabalho do evangelista deu origem a respeitados estabelecimentos de ensino de orientação cristã, como o Instituto Bíblico Moody e Escola Monte Hermon.

Já no Brasil, a Escola Dominical surgiu em meados do século 19. O casal de missionários escoceses Robert e Sarah Kalley instalou-se em Petrópolis, na Região Serrana fluminense, buscando ali um clima mais parecido com o deixado para trás na Europa. Erudito e bem articulado, o médico Kalley logo tornou-se interlocutor do imperador D.Pedro II. Graças às suas boas relações com o monarca, o missionário conseguiu que, pouco a pouco, as restrições à fé protestante no Império fossem abrandadas. Uma delas impedia que os grupos evangélicos se reunissem em construções com aspecto de templo, a fim de que não fossem confundidos com as igrejas católicas. Outra discriminação – a que proibia o sepultamento de protestantes em cemitérios gerais – também foi abolida. No dia 19 de agosto de 1855, a casa dos Kalley abriu-se para cinco crianças da região. Naquele dia, Sarah, que já dominava o português, deu uma aula baseada na história do profeta Jonas – aquele que fugiu de Deus e foi engolido por um peixe –, enfatizando a necessidade da obediência ao Senhor. Nascia ali a EBD em território nacional.

“Nem os pastores põem mais fé na EBD”

Entrevista exclusiva com o professor Angelo Gagliardi Jr.

O teólogo e médico Angelo Gagliardi Júnior, 53 anos, escreveu o livro Você acredita em Escola Dominical? no fim dos anos 1990, no qual debatia a crise desse modelo de ensino. Em entrevista a CRISTIANISMO HOJE, ele mostra que o tema continua atual.

CRISTIANISMO HOJE – Na década passada, quando o senhor escreveu o livro, o panorama da Escola Bíblica Dominical era diferente do de hoje?

ANGELO GAGLIARDI JR – Basicamente, os problemas são os mesmos, com o agravante de que o Evangelho é apresentado hoje numa visão mais utilitária, superficial, hedonista, sem ênfase no necessário conhecimento da Palavra e em atitudes como o arrependimento, a mudança de vida e o compromisso com o Senhor. Creio que o fato de hoje haver bem mais igrejas questionando-se e pensando em buscar alternativas seja um avanço. Isso era impensável, por exemplo, há trinta anos, quando matava-se o povo de fome com absoluta frieza em nome da tradição denominacional. O que regrediu foi o fato de ser cada vez maior o desapego ao ensino e ao manuseio da Bíblia como material central de estudo da escola. É, contudo, a Bíblia, a Palavra de Deus, o alimento, a espada, o mel, a lâmpada. Ela é insubstituível como instrumento de revelação de Deus.

Muitas igrejas promoveram mudanças na estrutura clássica da escola bíblica. Qual a sua opinião sobre isso?

É uma questão de visão, de importância, de prioridades, de filosofia. Sem que essas coisas mudem primeiro, nada dará resultado. É como colocar vinho novo em odres velhos. O problema é que ninguém mais põe fé na EBD, nem os pastores.

O que levou a isso?

Um somatório de fatores. Experiências fracassadas, estruturas arcaicas e carência de recursos didáticos e pedagógicos colaboraram para isso. Some-se a isso os modismos, a frieza espiritual de nossos dias – fato profetizado biblicamente –, a escassez de líderes e os inúmeros compromissos que hoje envolvem a liderança e o povo evangélico, e você terá um quadro pronto para o esvaziamento da EBD.

Muitas igrejas se recusam a adotar o formato convencional de EBD. Seria uma boa justificativa?

Nunca enfatizei o formato nem o apego a uma exclusiva metodologia, sequer a um único material didático acessório ou complementar. A escola está posta como ministério na Igreja para promover o conhecimento de Deus revelado em Cristo Jesus. Ela deve prover instrução, formação e a maturação do povo de Deus através do ensino, da meditação, do compartilhamento das Sagradas Escrituras.

A pergunta inevitável: como é possível resgatar o valor e a utilidade da Escola Dominical?

Só com a participação verdadeira e comprometida dos líderes e pastores das comunidades. O púlpito exalta o pregador. As sociedades internas e as células são, administrativamente falando, mais fáceis de serem gerenciadas e aliviam grande parte do descomunal peso transferido para as costas do pastor. Mas quem proverá o ensino da Palavra de forma cuidadosa, metódica, ordenada e progressiva?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

40 JOVENS POR DIA NA EUROPA...

Quarenta jovens europeus morrem por violência todo dia
21/9/2010 14:41, Redação, com agências - de Londres


Mais de 15 mil jovens morrem anualmente por atos de violência na Europa
Mais de 15 mil jovens morrem anualmente por atos de violência na Europa, disse a Organização Mundial da Saúde nesta terça-feira. Cerca de 40 por cento dessa mortes são causadas por esfaqueamento.
Em um relatório sobre a violência na Europa, a OMS afirmou que as 40 mortes que ocorrem diariamente por esfaqueamento e outros ataques são uma “perda enorme para a sociedade”, e muitas poderiam ser evitadas por políticas que unam os setores de saúde, educação e justiça criminal.
O estudo descobriu que o porte de facas é comum em muitos países europeus — cerca de 12 por cento de jovens portam facas — e os índices de assassinato são mais altos na Rússia, Albânia, Cazaquistão e muitos países do leste Europeu.
Outras formas comuns de assassinato de jovens são por tiros ou estrangulamento. A violência não-letal é muito mais comum. Para cada morte não violenta a entidade estima que 20 jovens vítimas da violência sejam internados em hospitais.
“Há muito a se ganhar adaptando a experiência de alguns dos países europeus mais bem-sucedidos na prevenção de violência”, disse Zsuzsanna Jakab, diretora-regional da OMS para a Europa, que divulgou o relatório em Londres.
Ela disse que se as autoridades aumentarem os investimentos e tiverem como foco políticas de prevenção contra a violência em diversos setores do governo, a Europa poderia salvar mais de 13 mil vidas por ano — nove em cada dez mortes violentas.
As pesquisas indicam que o “bullying” em escolas e na comunidade aumenta o risco de jovens se envolverem com a violência, mas não existe relação significativa entre o consumo de álcool ou drogas e o porte de uma arma, informou o relatório.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LEI PORCARIA

Porcaria de lei

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 24 de maio de 2007



Ilustres senhores parlamentares: Vossas Excelências podem votar, se quiserem, essa porcaria de lei que proíbe criticar o homossexualismo. Podem votá-la até por unanimidade. Podem votá-la sob os aplausos da Presidência da República, da ONU, do Foro de São Paulo, de George Soros, das fundações internacionais bilionárias, do Jô Soares, do beautiful people inteiro.

Não vou cumpri-la.

Não vou cumpri-la nem hoje, nem amanhã, nem nunca.

Por princípio, não cumpro leis que me proíbam de criticar ou elogiar o que quer que seja. Nem as que me ordenem fazê-lo.

Não creio que haja, entre os céus e a terra, nada que mereça imunidade a priori contra a possibilidade de críticas. Nem reis, nem papas, nem santos, nem sábios, nem profetas reivindicaram jamais um privilégio tão alto. Nem os faraós, nem Júlio César, nem Átila, o huno, nem Gengis Khan ambicionaram tão excelsa prerrogativa. O próprio Deus, quando Jó lhe atirou as recriminações mais medonhas, não tapou a boca do profeta. Ouviu tudo pacientemente e depois respondeu. As únicas criaturas que tentaram vetar de antemão toda crítica possível foram Adolf Hitler, Josef Stálin, Mao-Tse-Tung e Pol-Pot. Só o que conseguiram com isso foi descer abaixo da animalidade, igualar-se a vampiros e demônios, tornar-se alvos da repulsa universal.

Nada é incriticável. Quanto mais o simples gostinho que algumas pessoas têm de fazer certas coisas na cama.

Nunca na minha vida parei para pensar se havia algo de errado no homossexualismo. Agora estou começando a desconfiar que há. Nenhuma coisa certa, nenhuma coisa boa, nenhuma coisa limpa necessita se esconder por trás de uma lei hedionda que criminaliza opiniões. Quem está de boa intenção recebe críticas sem medo, porque sabe que é capaz de respondê-las no campo da razão, talvez até de humilhar o adversário com a prova da sua ignorância e má-fé. Só quem sabe que está errado precisa se proteger dos críticos com uma armadura jurídica que aliás o desmascara mais do que nenhum deles jamais poderia fazê-lo. Só quem não tem o que responder pode pedir socorro ao aparato repressivo do Estado para fugir da discussão. E quanto mais se esconde, mais põe sua fraqueza à mostra.

Sim, senhores. Nunca, ao longo dos séculos, alguém rebaixou, humilhou, desmascarou e escarneceu da comunidade gay como Vossas Excelências estão em vias de fazer.

As pessoas podem ter acusado os homossexuais de fingidos, de ridículos, de tarados, de pecadores. Ninguém jamais os qualificou de tiranos, de nazistas, de inimigos da liberdade, de opressores da espécie humana. Vossas Excelências vão dar a eles, numa só canetada, todas essas lindas qualidades.

Depois não reclamem quando aqueles a quem essa lei estúpida jura proteger se tornarem objeto de temor e ódio gerais, como acontece a todos os que tomam de seus desafetos o direito à palavra.

Quem, aprovada a PLC 122/ 06, se sentirá à vontade para conversar com pessoas que podem mandá-lo para a cadeia à primeira palavrinha desagradável? Os homossexuais nunca foram discriminados como dizem que o são. Graças a Vossas Excelências, serão evitados como a peste.

HOMOFOBIA NÃO É O QUE ESTÃO DIZENDO POR AI.... LEIAM!

Metáfora punitiva

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio (editorial) , 23 de maio de 2007



O dicionário Longman's, um dos mais atualizados da língua inglesa, define “homofobia” como “medo e ódio aos homossexuais”. O termo foi introduzido no vocabulário do ativismo gay pelo psiquiatra George Weinberg, no livro Society and the Healthy Homosexual (New York, St, Martin's Press, 1972) para designar o complexo emocional que, no seu entender, seria a causa da violência criminosa contra homossexuais.

Até hoje os apologistas do movimento gay não entraram num acordo sobre se existe ou não a homofobia como entidade clínica, comprovada experimentalmente. Uns dizem que sim, outros que não.

O que é absolutamente impossível provar, por meios experimentais ou por quaisquer outros, é que toda e qualquer rejeição à conduta homossexual seja, na sua origem e nas suas intenções profundas, substancialmente idêntica ao impulso assassino voltado contra homossexuais.

No entanto, é precisamente isso o que o termo significa quando aplicado ao Papa, ao deputado Clodovil Hernandez ou a qualquer outro cidadão de bem, hetero ou homo, que sem nem pensar em agredir um homossexual se limite a expressar educadamente suas reservas, já não digo nem quanto ao homossexualismo em si, mas simplesmente quanto às pretensões legiferantes do movimento gay . Em seu livro A History of Homophobia , que pode ser lido na internet , o ensaísta Rictor Norton, um apologista da homossexualidade, é bem franco sob esse aspecto: “Com muita freqüência, a palavra ‘homofobia' é apenas uma metáfora política usada para punir.”

“Homofóbico” é termo que só pode ser usado de maneira descritiva e neutra quando referido estritamente aos criminosos que o dr. Weinberg tinha em vista ao cunhar a expressão. Aplicado a quaisquer outras pessoas, é propositadamente pejorativo e insultuoso. Foi calculado para ferir, humilhar, rebaixar, intimidar – e, pior ainda, para fazer tudo isso com base na inflação metafórica de um termo médico que nem mesmo na sua acepção originária correspondia a uma realidade comprovada. Não é só um insulto. É um insulto e uma fraude. Mas, uma vez que o uso repetido tenha dessensibilizado o público de modo a que ele não perceba a fraude, passa-se à etapa seguinte do embuste: associada a mera expressão racional de opiniões a uma conduta psicopática e assassina, trasmuta-se o sentido metafórico em sentido literal, e a suposição insultuosa se torna prova do crime: toda e qualquer objeção às exigências do movimento gay será punida com pena de prisão.

A gravidade do insulto, em si, é monstruosa, e qualquer pessoa que o sofra pode e deve processar criminalmente o atacante antes que este, usando seu próprio crime como prova contra a vítima, a processe por “homofobia”. Toda e qualquer acusação de “homofobia”, se não dirigida a autor comprovado de crime violento contra homossexuais, é crime de injúria, difamação e calúnia, acrescido do uso fraudulento da justiça como instrumento de perseguição política.

Se as vítimas dessa fraude não reagirem contra ela, acabarão indo para a cadeia por motivos metafóricos.

O SENTIDO REAL DA HOMOFOBIA

Debate pré-moldado

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 29 de março de 2007



“Moldar o debate” é a técnica usada por grupos de interesse para impedir que as discussões públicas apreendam a substância dos problemas e canalizá-las numa direção forçada, postiça, previamente calculada para servir aos objetivos do grupo.

Nos anos 70, essa técnica tirou os EUA do Vietnã, deixando o caminho livre para que os comunistas assassinassem três milhões de civis ali e no vizinho Camboja. O truque foi desviar a discussão do problema central -- a ameaça vietcongue – e concentrá-la no estereótipo da “paz”. A paz acabou matando quatro vezes mais gente do que a guerra, mas quem liga para isso?

Pelos mesmos meios foi liberado o aborto, escamoteando a questão essencial – o que é e como se faz um aborto – e fixando o debate na “liberdade de escolha”. Com ajuda de estatísticas falsas (o número de mulheres mortas em abortos ilegais nos EUA foi artificialmente esticado de 250 para dez mil por ano), a militância abortista dessensibilizou a opinião pública para o fato de que se tratava de matar, por meios inconcebivelmente cruéis e dolorosos, milhões de crianças aptas a sobreviver fora do ventre de suas mães a partir do quinto mês de gestação.

Uma nova fraude em massa está em vias de se consumar, agora no Brasil, pelo uso do mesmo engodo. O movimento gay planeja tornar o homossexualismo, por lei, a única conduta humana superior a críticas. É a pretensão mais arrogante e ditatorial que algum grupo social já acalentou desde o tempo em que os imperadores romanos se autonomearam deuses. Aprovada a PL 5003/2001, os brasileiros poderão falar mal de tudo – dos políticos, dos vizinhos, do capitalismo, da religião, de Deus, do diabo. Mas, se disserem uma palavra contra aquilo de que os homossexuais gostam, irão para a cadeia.

Esse é o sentido da lei, essa é a substância da proposta. Mas é proibido discuti-la. É obrigatório ater-se à escolha estereotipada entre “homofobia” e “anti-homofobia”. Homofobia, a rigor, é um sintoma psiquiátrico raríssimo. Quantas pessoas você conhece que têm horror aos homossexuais ao ponto de querer surrá-los ou matá-los pelo simples fato de serem homossexuais? Fazer da “homofobia” o centro do debate é obrigar todo mundo a chamar por esse nome pelo menos três coisas que não têm nada a ver com homofobia: a repulsa espontânea que a idéia de relações com pessoas do mesmo sexo inspira a muitos heterossexuais, repulsa que não implica nenhuma hostilidade ao homossexual enquanto pessoa e aliás é análoga à que tantos homossexuais têm pelo intercurso hetero, sem que ninguém os chame de “heterofóbicos” por isso; as objeções religiosas ao homossexualismo, que vêm junto com a proibição expressa de odiar os homossexuais; e a oposição política às ambições do grupo gay , tal como exemplificada neste mesmo artigo. Reunir tudo isso sob o nome de “homofobia” já é criminalizar a priori qualquer resistência ao desejo de poder da militância homossexualista, já é impor a lei antes de aprovada, manietando o debate por meio da intimidação e da chantagem. É embuste consciente e premeditado. A mídia nacional quase inteira é culpada disso.