sábado, 8 de janeiro de 2011

SEJA HOMEM!

Seja Homem!!
por Luciano Alvarenga - Sociólogo

Os homens estão em crise de identidade. O heterossexual masculino, uma referência social e de valores por séculos, vê agora a emergência de uma cultura urbana, liberal, descolada, digital, sem compromisso com tradições de nenhum tipo, vinculada a um discurso aberto e franco sobre sexualidade e que tem na figura do homossexual seu maior representante. Ou, como me disse alguém, “ser gay é ser atual”. Em contraposição, a cultura hetero masculina está hoje associada a tudo o que é ruim. É a corrupção política, a falta de ética e moral de líderes religiosos ou não, a injustiça praticada por magistrados e juízes, é a falta de autoridade dos pais, tios e avós. Dos vereadores aos senadores estão todos podres, segundo a visão da maioria. Talvez por isso uma mulher tenha ganhado a presidência. A crise do mundo, suas guerras sem fim, a hecatombe ambiental, a pobreza por toda parte é facilmente atribuída ao homem e sua ganância. De repente toda a autoridade, que desde sempre esteve vinculada ao ser masculino, está corrompida e desacreditada. Ou, como dizia um adágio dos anos 1960 nos Estados Unidos, “toda autoridade é corrupta”.
A crise do masculino é ao mesmo tempo a crise dos grandes ideais de Ética, Moral e Justiça, bandeiras erguidas por gerações de grandes homens. No entanto, no mesmo momento em que o mundo se erguia contra o machismo, autoritarismo e a frieza do sistema capitalista, subprodutos daquelas grandes e honestas bandeiras dos anos 60, desmoronavam uns e outros. Ou, em melhores palavras, foram vencidos ao mesmo tempo os machismos e autoritarismos e o melhor da cultura masculina. Sobraram, apesar de tudo, os homens e quase nada para representarem.
Como o Brasil viveu quase nada daquilo tudo, ou melhor, ficou com uma ditadura de 21 anos, cabe viver agora as mudanças que em outros centros já se processaram. É por isso que me pergunto a razão do número impossível de não ver de gays que crescem ocupando os espaços, ditando as modas e definindo os valores que devem nortear toda a sociedade. Entre um hetero masculino em crise e mal visto e um gay atual e na moda, parece que as preferências têm recaído sobre o segundo.
A questão é: vale a pena ser homem, no sentido tradicional e único ainda conhecido? Se ser homem é ter que arcar com todo tipo de coisa mal vista e responsável pelas piores coisas com as quais a sociedade está tendo que lidar, é possível que os gays que proliferam entre todas as idades, especialmente entre adolescentes e garotos, sejam resultado de uma negação em ser homem. Quando observamos, por outro lado, um número crescente de jovens que não querem ter filhos, nem ser mães no sentido tradicional, estamos diante da possibilidade das mulheres estarem se negando a formação de uma família. É bom lembrar que também do lado delas aumenta o número de mulheres preferindo se relacionar sexual-afetivamente com outra mulher.
A verdade é que os homens, ao mesmo tempo em que viram as mulheres ocuparem seus espaços na sociedade e no mundo do trabalho, viram também sua importância e seu poder simbólico diminuírem na mesma velocidade em que se estreitavam sua geografia. Entretanto, não foram apenas os espaços geográficos diminuídos que explicam a crise profunda do masculino, mas o acovardamento em continuar sustentando as bandeiras da Ética, da Justiça e da Moral. A corrupção a que se entregou toda figura pública e de poder assentado no masculino foi uma opção e não uma contingência. A crise do masculino hoje é mais do que falta de espaço e poder, porque poder ainda há muito. A crise do masculino é, sim, ter permitido a deterioração da autoridade masculina representada nas instituições sociais, via um processo de corrosão do caráter, corrupção política e esvaziamento de qualquer tipo de ética de mediação das relações sociais.
O que estamos assistindo não é apenas a um mundo machista se desmanchando lentamente escondido ainda em alguns nichos onde pode urrar suas verdades datadas. Estamos vendo as novas gerações de garotos se recusando a ser homens no sentido masculino do gênero. Ao se recusarem a ser homens estão também dizendo que nada no masculino pode ser reivindicado na construção de suas identidades. Ocorre dizer que a crise do masculino é, também, a crise da sociedade e resolver a segunda implica resolver a primeira. O acento no sexo como definição da identidade, ou pelo menos a possibilidade de vivê-lo sem amarras ou constrangimento, e ter a vida circundada pelas possibilidades sexuais envoltas, inclusive numa jovialidade eterna, é a fuga para o mundo das sensações e da estética numa sociedade em profunda crise ecológica e espiritual.
Ser gay para homens e mulheres, pelo menos aqueles que o são por escolha e não por definição genética, pode ser uma solução casual ante problemas sem solução aparente, mas lega um grau de angústia, falta de resposta e sem sentido que só pode ser momentaneamente preenchido com doses cavalares de mais sexo (ainda que só nas palavras), e mais juventude. A saturação de sexo que qualquer cidadão urbano é obrigado a consumir diariamente, seja pela propaganda televisiva, nos cartazes, outdoors, artigos de revistas e conselheiros para relacionamentos falidos, evidencia que na falta de referências morais e éticas e novos contornos para outra sociedade possível, sobrou apenas o envenenamento das sensações sexuais injetadas continuamente nas pessoas para que estas queiram algo que na verdade está aquém das perguntas, das necessidades e das transcendências a que o humano está condenado a responder. Numa linha, no lugar do vazio existencial e espiritual injeta-se sexo.
A homossexualidade como alternativa ao masculino em crise, e eu defendo o direito de qualquer um vivê-la, não oferece absolutamente nada além da própria crise vestindo novas roupas. A crise do masculino só encontrará bom termo quando os melhores valores da sociedade, aqueles da Ética, da Moral e da Justiça se tornarem novamente guia e referência.

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