segunda-feira, 23 de julho de 2012

Anedota búlgara: humaniza-se o animal ao mesmo tempo em que se animaliza o homem


23/07/2012
 às 6:05

Um grupo de neurocientistas lançou o “Manifesto Cambridge sobre a Consciência em Animais Não Humanos”, leio na Folha de hoje. Segundo informa o jornal, “um conjunto de evidências convergentes indica que animais não humanos, como mamíferos, aves e polvos, possuem as bases anatômicas, químicas e fisiológicas dos estados conscientes, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais e emocionais.”

É evidente que haverá desdobramentos. Os vegetarianos, por exemplo, encontrarão um motivo a mais para recusar a carne, e é bem provável que alguns comedores de carne resolvem mudar seus hábitos alimentares. O fato de uma galinha não saber que é uma galinha e de uma vaca ignorar que é uma vaca facilita as coisas para nós. Parece que elas continuam desprovidas de consciência, mas a hipótese — creio que o achado ainda se situe nesse nível — é de que tenham mais sensibilidade do que se supunha.
Pois é…
O homem desenvolveu seu cérebro comendo os outros animais. Isso é um fato, não uma questão de gosto. Somos quem somos porque estamos impingindo, então, dor a outras espécies há alguns milhares de anos. Foi assim que a espécie deu à luz malditos como Hitler, Stálin e Mao Tse-Tung, mas também Michelangelo, Mozart e Flaubert.
Até havia pouco, a “consciência animal” era delírio de donos de cachorro, que insistem em atribuir aos bichos de estimação características humanas. Agora os cientistas jogam o peso de sua expertise na hipótese de que os bichos têm, vá lá, alguma coisa parecida com uma sabedoria… O açougue nunca mais será o mesmo.
Se vocês pesquisarem um pouquinho na Internet, constatarão que há centenas, talvez milhares, de estudos mundo afora em busca da tal “consciência dos animais não-humanos”. Esse esforço é parte da curiosidade da nossa espécie (o que nos foi facultado comendo a carne dos não-humanos e, em certos casos, dos humanos também) e, sim, do nosso humanismo, já aí tomando a palavra como um feixe de valores identificados com o bem.
É interessante que isso esteja em curso ao mesmo tempo em que assistimos à progressiva “animalização” do humano. Fico cá a me perguntar: quanto são os da nossa espécie que estão certos da “consciência de um cachorro”, que talvez achem uma barbaridade que se possa comer carne, que repudiam até os rodeios por causa do sofrimento que se impinge aos touros, mas que não hesitariam em defender o aborto, por exemplo?
Não deliro. Aquela Comissão de Juristas que elaborou as propostas de reforma do Código Penal, que foi entregue ao Senado, decidiu tipificar o crime o maltrato de animais — ficaram famosos os casos de pessoas que espancaram seus cães até a morte —, mas propôs, na prática (ainda de modo malandro, oblíquo), a legalização do aborto. Num raciocínio lógico e elementar, trata-se de pessoas para as quais o feto humano não pode, de modo nenhum, ser equiparado a um cachorro ou a um gato.
Os cientistas certamente estão tentando elaborar uma teoria a partir de dados objetivos, mas é evidente que foram movidos para essa pesquisa também pela cultura.  Hoje em dia, aprendemos que proteger os bichos e ter o direito de eliminar os fetos humanos são posturas consideradas “progressistas”. Resta àqueles que nos opomos ao aborto, dada a sapiência dos juristas daquela comissão, reivindicar que o feto humano tenha, ao menos, o status de um cão sarnento.
Como não encerrar este texto com este poema, de Carlos Drummond de Andrade, que vocês já conhecem?
Anedota Búlgara
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/anedota-bulgara-humaniza-se-o-animal-ao-mesmo-tempo-em-que-se-animaliza-o-homem/

terça-feira, 17 de julho de 2012

a sala

a chegada da tv modelou a nova sala, os sofás, que eram voltados um para o outro agora  se voltam para ela... assim, o diálogo, os vizinhos e outras coisas mais já não são mais bem vindos, uma vez que a tv concentra nossas atenções.

domingo, 15 de julho de 2012

Para que serve um ex-presidente?


Lula, que imitou as políticas de Fernando Henrique Cardoso quando era presidente, também deve imitá-lo agora.Um verdadeiro democrata não usar sua influência para intervir nas eleições de outro país

Não é fácil ser presidente. A velha piada é que os presidentes são como vasos chineses: todo mundo diz que eles são muito valiosos, mas ninguém sabe o que fazer com eles. E muitos chefes de Estado não sabe o que fazer com eles mesmos, uma vez que deixará de ser. Alguns, como Bill Clinton, realizou uma intensa atividade, outros, como Vladimir Putin, eles conseguem nunca deixar o poder e ainda outros, como Silvio Berlusconi passou a pós-presidência para se preparar para o retorno ao palácio.
Esses dias, dois eventos quase simultâneos, com dois ex-presidentes, ilustram maneiras muito diferentes de assumir o papel de "ex". O contraste de suas ações não poderia ser mais extrema e mais instrutivo.Estes são os dois primeiros mais famoso e bem sucedido no Brasil: Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio  Lula  da Silva. Ambos foram no cenário internacional por razões diferentes. Fernando Henrique Cardoso ganhou o maior do mundo em ciências sociais: o Prêmio Kluge, concedido pela Biblioteca do Congresso. O processo de seleção prêmio é tão ou mais rigorosos do que os Prémios Nobel, e um equivalente envelope (um milhão de dólares).Brasil : Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio 
Enquanto Cardoso recebeu Kluge Prize pela sua contribuição para as ciências sociais, apoiado Lula, Hugo Chávez em sua campanha
O júri destacou que o prêmio reconheceu as contribuições intelectuais de Cardoso, que era um sociólogo de renome antes de entrar na política. Cardoso fez contribuições pioneiras para a análise da desigualdade e do racismo no subdesenvolvimento. Foi também o pai da teoria da dependência famoso, que argumentou que o subdesenvolvimento foi parcialmente causada pelos países mais ricos e relações de exploração que têm com os países pobres. Esta idéia, popular na década de 70 e 80, perdeu força e Cardoso se reconhece que o mundo mudou e que as suas conclusões não são mais válidos.
Sobre o mesmo tempo de receber o prêmio Cardoso, Lula interveio por videoconferência na reunião do Foro de São Paulo, um agrupamento de esquerda latino-americana fundada sob os auspícios do Partido dos Trabalhadores do Brasil (PT) em 1990. Para os presentes na reunião, realizada em Caracas, Lula disse: "Somente sob a liderança de Chávez as pessoas realmente tiveram realizações extraordinárias. As aulas nunca foram tratados com tanto respeito, carinho e dignidade. Essas conquistas devem ser preservadas e fortalecidas. Chávez, conte comigo, conte com o PT, contar com a solidariedade e apoio de cada militante de esquerda, todos os democratas e todos os latino-americana.Sua vitória é nossa vitória. "
É legítimo que Lula 
na Venezuela bata 
políticas 
diametralmente opostas 
àquelas que ele mesmo impôs 
com grande sucesso no Brasil
É perfeitamente legítimo que Lula expressou seu afeto e admiração por Hugo Chávez. Os afetos, como o amor é cego, e merecem respeito. Mas é legítimo que Lula para intervir na campanha eleitoral em outro país. Isso não é o que os democratas fazem.Lula sabe. E ele tinha feito antes, quando, na véspera de um importante referendo na Venezuela, interrompeu o processo alegando que Chávez era o melhor presidente do país tem experimentado nos últimos cem anos.
Também não é legítimo para distorcer, como fez Lula, a realidade venezuelana, especialmente os pobres. Chávez teve um efeito devastador sobre a Venezuela e os pobres são as principais vítimas.São eles que pagam as conseqüências de viver em um dos mais inflacionária do mundo são eles que devem se contentar com um salário real caiu para seu nível em 1966 (sim: 1966). São eles que não conseguem trabalho a menos que seja no setor público e desde que constantemente provar sua adoração e fidelidade "ao comandante." São eles que vêem seus filhos e filhas mortas em uma das mais altas taxas do mundo. Não admira, portanto, que nas últimas eleições legislativas mais da metade dos votos foram contra Chávez. Na Venezuela, é impossível chegar a esse percentual, sem milhões de votos dos mais pobres - os pobres, Lula disse, são melhores do que nunca. Finalmente, não é legítimo em outro país aplaudir políticas de Lula públicas que são diametralmente opostas àquelas que ele mesmo impôs com grande sucesso no Brasil.
Neste sentido, seria ruim, como imitar as políticas de FHC, quando era presidente, Lula como presidente para emular agora. Seria bom para aprender com o Cardoso político, que sabe que um verdadeiro democrata não usa o seu prestígio e influência como presidente de interferir indevidamente com a eleição de outro país.
http://www.marcovilla.com.br/2012/07/para-que-serve-um-ex-presidente.html