quarta-feira, 8 de agosto de 2012

“Valdomiro lidera com folga corrida eleitoral”.Baseado em que?

Chama a atenção a pesquisa publicada pelo Diário da Região, do instituto UP, no dia 05.08.2012 sobre as intenções de voto aos candidatos a prefeito da cidade.
A publicação pelo jornal Diário da Região, no dia 05.08.2012, de uma pesquisa de intenção de votos com 5 pontos de margem de erro é um destes momentos da imprensa que poderia ter sido explorado de outra maneira. O fato de a pesquisa ter sido elaborada com uma margem de erro de 5 pontos é uma informação fundamental que deveria ter aparecido na publicação referida com muito destaque.
O padrão de variação costumeiramente utilizado por Institutos de pesquisa, inclusive aqueles ligados a jornais, é de 2 pontos percentuais que é o mais próximo a que se pode chegar confiavelmente da realidade no momento da pesquisa. A pesquisa feita pelo instituto UP, responsável pela pesquisa em questão e publicada pelo referido jornal, não poderia ter vindo a público sem um aviso do jornal a respeito da imensa margem de erro. Margem essa tão larga que a pesquisa mais desinforma do que informa.
A informação que diz que o Valdomiro pode ter 37% de votos, mas também pode ter 32 ou 42% não está dizendo nada. Mesmo assim foi publicada em manchete no principal dia do jornal, domingo, e sem nenhum esclarecimento. Creio seja papel da imprensa refletir sobre tais dados e informar seu leitor a respeito do fato de que o dado que ele lê no jornal está manipulado pelos critérios definidos por quem fez a pesquisa. Dizer em algum lugar que a pesquisa tem 5% de margem de erro e não dizer ao leitor o que isso significa, é informar pela metade.
“Valdomiro lidera com folga corrida eleitoral” é uma ilação do jornal. Tendo em vista que a margem de erro pode dizer exatamente o contrário disso. Valdomiro pode ter 32% das intenções de voto e Rillo ter 25%; ora isso não é folga. Maurício Bellodi pode ter 6,2% e Manuel Antunes 7,9%. Ou seja, outra realidade. Ou a realidade que ficou escondida?
Sendo assim, a pesquisa publicada tal como foi prestou-se mais a manipulação dos números por quem quer que seja do que informou o leitor do jornal, o maior interessado que isso tivesse sido feito de maneira mais isenta. Luciano Alvarenga

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O limite a que chegou a Educação



A Educação não é uma prioridade em São Paulo em nenhum nível. A ideia é levar as escolas a todos sem que isso signifique o desenvolvimento de um projeto que tenha na educação seu centro. As escolas plantadas nas cidades parecem museus a céu aberto. Cada parede mal pintada, cada quadra poliesportiva semiabandonada, cada palco mal feito revelam os inúmeros projetos falidos desenvolvidos pelos inúmeros governos Estaduais e, nesses últimos anos, a falta completa deles.
A moda agora são os índices de aprendizagem e, colados neles, os bônus pagos às escolas e professores que atingirem as metas. O famoso e ao mesmo tempo muito controverso Saresp é um deles. A ideia é que por uma mágica cada professor consiga por meio do “estímulo” Saresp, fazer aquilo que até então não havia conseguido fazer com seus alunos. Na realidade nada mudou nas escolas, nada mudou nos métodos, nada mudou no formato, nada mudou em lugar algum, pelo menos significativamente e de maneira que se possa realmente esperar que algo diferente aconteça.
O que se observa ao visitar escolas, professores, diretores e alunos (e já visitei dezenas de escolas e centenas de alunos) é a mais completa evidencia de que toda essa firula de Saresp, bônus, aprovação automática e tantos outros malabarismos é apenas isso, circo. A ideia é criar movimentos novos, mais rápidos, e esteticamente bonitos, mas que ao fim e ao cabo não chegam a lugar algum. A escola paulista é uma mentira. A abertura cada vez maior e por um numero maior ainda de cidades, das Fundações Casa, é a contraprova de que a Educação não é o foco.
 Aliás, há de se perguntar se a escola mesma não é apenas uma ante sala da Fundação Casa. A discussão agora em andamento, e já defendida por grandes veículos de comunicação, em estender o tempo máximo de permanência dos menores internos de três anos para dez, aponta com clareza que o principio norteador da política estadual com relação à juventude é o do encarceramento forçado. Forçados a estar numa escola sem perspectivas por anos a fio acabam muitas vezes, por forças das circunstâncias, a passarem outros tantos anos na F. Casa.
A situação é tão surreal nas escolas que muitos professores já admitem abertamente aos seus alunos que tudo não passa de mentira, e precisam admiti-lo ao custo de parecerem esquizofrênicos se não o fizerem. A educação em São Paulo não existe. Escola é perda de tempo e o numero inflacionado de desistência escolar é uma prova contundente dessa falência. A evasão só não é maior por que a Escola fornece almoço e janta todos os dias, além de aprovação garantida. O que estamos vendo é o problema se desdobrando sobre si mesmo criando uma situação absurda. Alunos mal formados, mal preparados entrando no ensino universitário particular ou público, mais naquele do que neste, fazendo cursos universitários vazios, sem direção, sem cobrança, sem resultado onde o fim de tudo são profissionais que não conseguem dar conta de se estabelecer no mercado em função de sua formação. Empresas que cada vez mais criam seus próprios cursos universitários para formar seus próprios empregados é um dado dessa realidade.
Uma educação tecnicista voltada para o aprendizado de um conteúdo inútil que nada serve para criar autonomia e preparo para a vida, isso é a base e o suporte do ensino paulista. Por fim, perto de sediar o mais importante encontro de esportes do planeta, as Olimpíadas no Brasil são tratadas como se isso nada tivesse haver com Escola e Estudantes.

Luciano Alvarenga, Sociólogo e Mestre em Economia pela Unesp

rejeição e opção de votos para prefeito de Limeira



segue pesquisa para intenção de votos para escolha do próximo prefeito de Limeira. Acima, gráfico de rejeição e intenção de votos! fonte: Gazeta de Limeira

domingo, 5 de agosto de 2012

O Brasil que prende “pobre, preto e puta” tomará vergonha na cara para prender “político, petista e poderoso”? Com a palavra, os 11 ministros do STF. Eles decidirão que país teremos. Ou: O “domínio dos fatos”


Não tenho especial prazer em ser chulo — aliás, prazer nenhum, muito pelo contrário! —, mas também não temo as palavras. Ao Supremo Tribunal Federal caberá, sim, dizer se cadeia, no Brasil, continua a ser um “privilégio” que só atende aos três “pês”: pobre, preto e puta. Eu convido os ministros do Supremo, então, a democratizar a língua do “pê” e a dizer se “político” e “petista” também podem gozar desse benefício, o que significará acrescentar um outro “pê”, este sim fundamental: “poderoso”. Então ficamos assim: os ministros do Supremo dirão se o país que prende, com especial desenvoltura, “pobre, preto e puta” também tem a coragem de prender “político, petista e poderoso”. Tem ou não? É o que veremos.
Não, senhores! Eu não tenho, como sabem, a menor disposição para a vendeta de classes. Quem inventou a era de “Os ricos também choram” foi a Polícia Federal de Márcio Thomaz Bastos! E quem é Bastos? Hoje, o advogado-estrela do mensalão, apelidado de “Deus” — deve-se pronunciar o Nome D’Ele em inglês: “God”. Ainda me lembro da estrepitosa prisão de Eliana Tranchesi em 2005, por exemplo; em 2009, de novo. Nesse caso, mobilizaram-se 40 agentes da Polícia Federal para pegar a mulher em casa, de camisola. Imaginavam o quê? Que fosse reagir de arma na mão? Aí o ministro da Justiça já era outro: Tarso Genro — aquele que deu um jeito de manter no Brasil o assassino Cesare Battisti. Tranchesi, que morreu de câncer em fevereiro deste ano, foi condenada a 94 anos de prisão pela Justiça Federal! É claro que a sua prisão, nas duas vezes, foi um espetáculo midiático, o que não quer dizer, necessariamente, que não fosse merecida. Ocorre que a ideia, então, era menos fazer justiça segundo os autos e mais fazer justiça de classe. Uma empresária foi usada como a Geni do Brasil, enquanto, como é mesmo?, “a nossa pátria mãe dormia tão distraída, sem saber que era subtraída em tenebrosas transações”.
As operações espetaculosas da Polícia Federal — que têm a marca Márcio Thomaz Bastos, reitero — eram engendradas enquanto larápios se ocupavam de tomar grana do Branco do Brasil, por exemplo, para financiar operações políticas que eram do interesse do Palácio do Planalto e do petismo. Atenção! R$ 70 milhões do BB foram parar nas agências de Marcos Valério. Ao verificar os serviços prestados, encontrou-me menos de 1% do prometido. Era tudo mentira. Tranchesi sonegou impostos, deixou de arrecadar dinheiro para os cofres públicos. Tinha de ser punida, sim! — não humilhada, que isso é coisa de estado totalitário. Já o Banco do Brasil foi roubado, surrupiado. Esses são os nomes. Mas, claro!, a exemplo dos presos do filme “Carandiru”, todos são “inocentes”.
Por que escrevo esses parágrafos? Muitos ficaram chocados  — “Oh, que exagero!” — com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quando ele pediu, clara e abertamente, a prisão dos protagonistas do mensalão. É mesmo, é? Por quê? Então estamos tão narcotizados por essa quadrilha que não podemos nem cogitar a hipótese de que gente que rouba um banco público para financiar larápios mereça mesmo é cana? Por quê? Um sonegador deixa de arrecadar — e merece ser punido, sim! Mas um ladrão subtrai. Um deixa de acrescentar o que deve; o outro tira o que não lhe pertence.
Disse Roberto Gurgel:
“Confiante no juízo condenatório dessa Corte Suprema e tendo em vista a inadmissibilidade de qualquer recurso com efeito modificativo da decisão plenária, que deve ter pronta e máxima efetividade, a Procuradoria-Geral da República requer, desde já, a expedição dos mandados de prisão cabíveis imediatamente após a conclusão do julgamento (…). Espera-se a condenação de 36 dos réus e a expedição dos mandados de prisão cabíveis. Em princípio, é algo que se aplica a todos”.
Que o leitor entenda tudo direitinho. Não estou dizendo que Eliana Tranchesi não deveria ter arcado com as consequências de seus atos, não! Deveria, sim! Em 2005, ainda no site “Primeira Leitura”, escrevi um longo texto a respeito (ver post nesta página). Eu só estou apontando agora, em 2012, sete anos depois, a grande ironia: ninguém menos do que Márcio Thomaz Bastos (aquele diante do qual se ajoelha, retoricamente ao menos, o ministro Ricardo Lewandowski), então chefe da PF que prendeu Tranchesi naquela megaoperação, é advogado de um dos acusados do mensalão e o grande esteio da defesa dos réus. Os crimes, sem sombra de dúvida, existiram. Os advogados tentarão, a partir de segunda-feira, demonstrar que nunca houve criminosos!
Cadeia, sim! Parabéns a Roberto Gurgel, procurador-geral da República, por ter tido a coragem de chamar as coisas pelo nome que elas têm.
ChateadosAdvogados que defendem os réus, alguns deles com muita penetração no que o petismo chama “mídia”, encarregaram-se de espalhar a falácia de que a denúncia de Gurgel é fraca e não traz evidências. Não é verdade! Ao contrário. Seu relatório foi muito mais consistente do que se imaginava. Os crimes estão perfeitamente caracterizados — são, na verdade, inegáveis —, e ele evidenciou, com clareza meridiana, as ocorrências segundo o que se chama em direito o “domínio dos fatos”.
Em alguns casos, a prova grita. Fim de papo! O sujeito foi lá e sacou a grana do esquema no banco. “Ah, mas era para pagar dívida de campanha…” Tanto pior se fosse! Mas poderia ser para comprar leite para os gatinhos “em situação de vulnerabilidade”, como diriam os esquerdopatas amorosos hoje em dia. Em outros casos, a prova é menos escandalosa porque deriva da ação mais sorrateira.
A defesa ficou, na verdade, chateada. Muitos por ali estavam acostumados a engravidar jornalistas pelo ouvido — “Ó, não há provas, tá?” —, que saíam por aí a reproduzir a inverdade. Ainda persiste, por exemplo, a falácia de que prova mesmo, de verdade, só com ato de ofício — um documento assinado. Não é o que está no Código Penal nem na lógica, já que o profissional da roubalheira, por óbvio, não assina papel.
Não caiam nessa conversa! A verdade é que a acusação do procurador surpreendeu os próprios advogados de defesa pela contundência. Do emaranhado gigantesco de acontecimentos, Gurgel conseguiu chegar a uma narrativa coerente, recheada de provas, a demonstrar que aquilo a que se chamou “mensalão” foi o mais ousado esquema de corrupção montado no seio do estado brasileiro.
Não por acaso, ele abriu o seu texto citando “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro. O mensalão é nada menos que um aggiornamento do conhecido patrimonialismo, agora temperado por seu oposto combinado: o gangsterismo que se formou para supostamente lhe dar combate. O filme-símbolo do período que vivemos é “On the Waterfront” — ou “Sindicato de Ladrões”, como ficou conhecido no Brasil. Quem não viu deve fazê-lo hoje mesmo. Está em todas as locadoras e deve ser achável na Internet.
Os 11 do Supremo vão dizer se roubar o Banco do Brasil é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se roubar dinheiro público é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se conceder benefícios a um banco privado em troca de grana é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se comprar parlamentares e partidos com dinheiro sujo é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se agências de publicidade pagando parlamentares em nome de um partido é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se pagar em 2003 uma campanha eleitoral feita em 2002, em moeda estrangeira, no exterior, ao arrepio de qualquer controle, é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer, em suma, se a safadeza deve ser tomada como a medida da normalidade brasileira.
Para tanto, eles têm inteira clareza do domínio dos fatos. Uma coisa é certa: nenhum deles será esquecido. O poder petista, à diferença dos diamantes, não é eterno. Mas a memória histórica é, sim! Enquanto houver Brasil, haverá os 11 ministros que julgaram os réus do que se chamou “mensalão”. 
Por Reinaldo Azevedo