sexta-feira, 26 de outubro de 2012


A condenação do PT


O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder
O julgamento do mensalão atingiu duramente o Partido dos Trabalhadores. As revelações acabaram por enterrar definitivamente o figurino construído ao longo de décadas de um partido ético, republicano e defensor dos mais pobres. Agora é possível entender as razões da sua liderança de tentar, por todos os meios, impedir a realização do julgamento. Não queriam a publicização das práticas criminosas, das reuniões clandestinas, algumas delas ocorridas no interior do próprio Palácio do Planalto, caso único na história brasileira.

Muito distante das pesquisas acadêmicas — instrumentalizadas por petistas — e, portanto, mais próximos da realidade, os ministros do STF acertaram na mosca ao definir a liderança petista, em 2005, como uma sofisticada organização criminosa e que, no entender do ministro Joaquim Barbosa, tinha como chefe José Dirceu, ex-presidente do PT e ministro da Casa Civil de Lula. Segundo o ministro Celso de Mello: “Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder.” E concluiu: “É macrodelinquência governamental.” O presidente Ayres Brito foi direto: “É continuísmo governamental. É golpe.”

O julgamento do mensalão desnudou o PT, daí o ódio dos seus fanáticos militantes com a Suprema Corte e, principalmente, contra o que eles consideram os “ministros traidores”, isto é, aqueles que julgaram segundo os autos do processo e não de acordo com as determinações emanadas da direção partidária. Como estão acostumados a lotear as funções públicas, até hoje não entenderam o significado da existência de três poderes independentes e, mais ainda, o que é ser ministro do STF. Para eles, especialmente Lula, ministro da Suprema Corte é cargo de confiança, como os milhares criados pelo partido desde 2003. Daí que já começaram a fazer campanha para que os próximos nomeados, a começar do substituto de Ayres Brito, sejam somente aqueles de absoluta confiança do PT, uma espécie de ministro companheiro. E assim, sucessivamente, até conseguirem ter um STF absolutamente sob controle partidário.

A recepção da liderança às condenações demonstra como os petistas têm uma enorme dificuldade de conviver com a democracia. Primeiramente, logo após a eclosão do escândalo, Lula pediu desculpas em pronunciamento por rede nacional. No final do governo mudou de opinião: iria investigar o que aconteceu, sem explicar como e com quais instrumentos, pois seria um ex-presidente. Em 2011 apresentou uma terceira explicação: tudo era uma farsa, não tinha existido o mensalão. Agora apresentou uma quarta versão: disse que foi absolvido pelas urnas — um ato falho, registre-se, pois não eram um dos réus do processo. Ao associar uma simples eleição com um julgamento demonstrou mais uma vez o seu desconhecimento do funcionamento das instituições — registre-se que, em todas estas versões, Lula sempre contou com o beneplácito dos intelectuais chapas-brancas para ecoar sua fala.

As lideranças condenadas pelo STF insistem em dizer que o partido tem que manter seu projeto estratégico. Qual? O socialismo foi abandonado e faz muito tempo. A retórica anticapitalista é reservada para os bate-papos nostálgicos de suas velhas lideranças, assim como fazem parte do passado o uso das indefectíveis bolsas de couro, as sandálias, as roupas desalinhadas e a barba por fazer. A única revolução petista foi na aparência das suas lideranças. O look guevarista foi abandonado. Ficou reservado somente à base partidária. A direção, como eles próprios diriam em 1980, “se aburguesou”. Vestem roupas caras, fizeram plásticas, aplicam botox a três por quatro. Só frequentam restaurantes caros e a cachaça foi substituída pelo uísque e o vinho, sempre importados, claro.

O único projeto da aristocracia petista — conservadora, oportunista e reacionária — é de se perpetuar no poder. Para isso precisa contar com uma sociedade civil amorfa, invertebrada. Não é acidental que passaram a falar em controle social da imprensa e... do Judiciário. Sabem que a imprensa e o Judiciário acabaram se tornando, mesmo sem o querer, nos maiores obstáculos à ditadura de novo tipo que almejam criar, dada ausência de uma oposição político-partidária.

A estratégia petista conta com o apoio do que há de pior no Brasil. É uma associação entre políticos corruptos, empresários inescrupulosos e oportunistas de todos os tipos. O que os une é o desejo de saquear o Estado. O PT acabou virando o instrumento de uma burguesia predatória, que sobrevive graças às benesses do Estado. De uma burguesia corrupta que, no fundo, odeia o capitalismo e a concorrência. E que encontrou no partido — depois de um século de desencontros, namorando os militares e setores políticos ultraconservadores — o melhor instrumento para a manutenção e expansão dos seus interesses. Não deram nenhum passo atrás na defesa dos seus interesses de classe. Ficaram onde sempre estiveram. Quem se movimentou em direção a eles foi o PT.
Vivemos uma quadra muito difícil. Remar contra a corrente não é tarefa das mais fáceis. As hordas governistas estão sempre prontas para calar seus adversários.

Mas as decisões do STF dão um alento, uma esperança, de que é possível imaginar uma república em que os valores predominantes não sejam o da malandragem e da corrupção, onde o desrespeito à coisa pública é uma espécie de lema governamental e a mala recheada de dinheiro roubado do Erário tenha se transformado em símbolo nacional.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pastor Silas Malafaia se consolida nas eleições como líder político nacional


Pastor Silas Malafaia se consolida nas eleições como líder político nacional

Polêmico, direto e agressivo, o popular cabo eleitoral evangélico apoia Serra em São Paulo e ajudou a eleger 24 prefeitos e 16 vereadores em sete Estados. Leia a entrevista

Raphael Gomide iG Rio de Janeiro  - Atualizada às 
Fábio Guimarães / Extra / Agência O Globo
Malafaia diz que sua função é influenciar
Silas Malafaia, fundador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e prestigiado pastor no meio evangélico, consolidou-se, naseleições de domingo (7), como um importante líder político em âmbito nacional. repetindo os passos de outras influentes denominações, como a Igreja Universal e a Assmbleia de Deus.
Carismático, com linguagem direta, cheia de gírias e por vezes agressiva em defesa de suas ideias conservadoras, ele está no centro de polêmica em São Paulo, onde apoia José Serra (PSDB) contra Fernando Haddad (PT), a quem se refere como "autor do kit-gay". 
Malafaia apoiou 40 candidatos vencedores no pleito pelo País – 24 a prefeito (quatro estão no segundo turno) e 16 a vereador. Com 48 indicados no total em sete Estados, sua performance foi de 83% de sucesso.
Ele declarou voto em seis candidatos a prefeito em cidades grandes. Dois venceram no primeiro turno: Eduardo Paes (PMDB) , no Rio, e Fortunati (PDT) , em Porto Alegre e três foram para o segundo turno: José Serra (PSDB) , em São Paulo, Ratinho Júnior (PSC) , em Curitiba, na frente; e Neilton Mulim (PR) ficou em segundo em São Gonçalo (segundo maior colégio eleitoral do Rio). Na menor cidade da lista, Palmas, seu preferido, Marcelo Lelis, foi derrotado. “Só perdi com o cara de Palmas, onde não tem segundo turno.”
“Apoiei 18 caras para vereador, 16 foram eleitos. Em Porto Alegre, quando cheguei para apoiar (José) Fortunati (prefeito eleito), estava empate técnico com a Manuela Dávila (PCdoB). Dei uma força, lá em Porto Alegre tem muito evangélico. Ele pediu: ‘Grava aqui para o TRE.’ Fiz um áudio e pus na porta da igreja. Não digo que ganhei, mas ajudei a ganhar”, contou.
Ele concentrou as ações principalmente no Rio: De 25 candidatos a prefeito no Estado, perdeu em cinco municípios, venceu em 18 e dois foram para o segundo turno. O religioso conseguiu fazer ainda 16 de 18 (86,6%) vereadores - 16 no Rio, um em Manaus (AM) e um em Cabo Santo Agostinho (PE), onde fica o Porto do Suape. Nas eleições de 2010, o pastor já tinha ajudado a eleger três deputados federais no Rio.
Luiz Roberto Lima/Futura Press
Pastor Silas Malafaia em trio elétrico, na Marcha para Jesus, no Rio
Apesar de ter dito ao iG que faria campanha discreta para o tucano José Serra no segundo turno em São Paulo, ele tem provocado polêmica, ao escrever seguidas mensagens críticas a Fernando Haddad no twitter e no facebook, identificando-o como “autor do ‘kit-gay’”.
O pastor tem consciência de sua força nas urnas, no segmento evangélico e se regozija disso. Ele afirma que esta sua missão é influenciar o máximo possível. “Gooosto (de política)! Eu nunca vou ser candidato a nada, pode anotar aí! Agora, tenho a convicção, como pastor, acredito que fui levantado para influenciar. Então, vou influenciar o máximo que puder. Ser (político), nunca, mas influenciar, sempre!”
Malafaia também não tem pudores em relação ao jogo político, cuja dinâmica revela conhecer bem. “Na época da eleição, o prefeito e governador bajulam todo mundo para ganhar. Quando são eleitos, essa aqui é que é a verdade, amigo: “Quem é esse cara aí? Elegeu quem?” Então, para eles te atenderem, você tem de mostrar que você tem força política! Senão é mais um no bolo! (...) Essa é que é a verdade nua e crua.”
Segundo o pastor, é graças ao poder político que os evangélicos conseguem garantir seus “princípios”. “Quando vier coisa de molecagem contra os nossos princípios, a gente tem voz para pressionar. É esse que é o jogo. Isso é o que eu faço. Não tem conversa: “Vai fazer essa lei aí? Vai? Então vai ver se vai ter o meu apoio...!” Você vê, tanta coisa foi freada aí, em âmbito federal e tudo, por medo de nossa comunidade”, explica. 
Direto, o pastor não se furta a fazer comentários sobre outras igrejas, como a Universal, com mais tempo de atuação política.
Fábio Guimarães / Extra / Agência O Globo
Malafaia ajudou a eleger prefeitos e 13 vereadores
Além da igreja e da TV, onde tem programas em três canais, Malafaia aposta suas fichas na influência pela internet. “O segmento social que mais usa a internet e as redes sociais são os evangélicos.”
Ele contou ao iG que usa a mala direta de venda de seus produtos evangélicos (livros, CDs, DVDs) para fazer propaganda política de seus candidatos. Malafaia disse esperar que os candidatos por ele apoiados defendam os interesses dos evangélicos e honrem o seu nome, porque os apoiou. Se pisar (na bola), “quem vai dar com o sarrafo sou eu, (...), largo o aço em cima, (...) vou sacudir em cima dele!”. “Meu nome não está à venda para ninguém”, afirmou Malafaia.
Leia a entrevista do iG com Silas Malafaia:
iG: Como o sr. analisa o seu envolvimento com a política?
Silas Malafaia: A vida é resultado do que construímos ao longo do tempo. A gente se posiciona e corre riscos, põe a cara para bater. O povo evangélico vem amadurecendo. Estou há muito tempo na mídia, e conquistei credibilidade com os evangélicos. Uma parte acata e considera o que eu digo.
iG: O sr. gosta de participar dessa embate, não é?
Silas Malafaia: Gooosto! Eu nunca vou ser candidato a nada, pode anotar aí! Nada, nada, nada! Agora, tenho a convicção, aquilo que sou, como pastor, como um dos líderes de um segmento, acredito que fui levantado para influenciar. Então, vou influenciar o máximo que puder. Ser (político), nunca, mas influenciar, sempre!
iG: Quantos candidatos o sr. apoiou nessas eleições?
Silas Malafaia: Apoiei 18 caras a vereador, 16 foram eleitos. Em Porto Alegre, quando cheguei para apoiar (José) Fortunati (prefeito eleito), estava empate técnico com a Manuela Dávila. Dei uma força, lá em Porto Alegre tem muito evangélico. Ele pediu: ‘Grava aqui para o TRE.’ Fiz um áudio e pus na porta da igreja. Não digo que ganhei mas ajudei a ganhar. O Ratinho Jr., conheço o pai dele, que me pediu ajuda. ‘Dá uma palavra para os evangélicos’. Em São Paulo, entrei aos 45 minutos, no dia 1º. Segunda de manhça, Serra me ligou para agradecer. Hoje (terça-feira, 9) estive com ele.
No Rio, apoiei 25 candidatos a prefeito. Cinco perderam, 18 foram eleitos, e dois estão no segundo turno. Podia ter apoiado 200 caras que vieram encher meu saco. Mas política é muito desgastante, ao botar minha cara, para muita gente, corro muito risco. Se um cara desses faz besteira, acabo chamuscado. Falei muito 'não'.
iG: O sr. considera que os evangélicos devem participar de forma ativa, como grupo político?
Silas Malafaia: Como os evangélicos começaram a ser um segmento importante, o pessoal entende o seguinte: se ateu, marxista, filósofo, operário pode dar opinião, por que não posso dar? Falam tanto que somos fundamentalistas, retrógrados... O que não posso dizer é que a igreja apoia (determinado candidato). Isso não digo. Não suporto negócio de que a igreja apoia! Sou eu, que sou cidadão que apoio. Temos de nos fazer representar. Na Bíblia, Jesus não anulou a cidadania terrena.
Fábio Guimarães / Extra / Agência O Globo
Malafaia tem contato direto com governadores e prefeitos
iG: E como é que o sr. pede voto para os candidatos?
Silas Malafaia: Falo em tudo o que é lugar: ‘Você é livre para votar em quem quiser. Não tem anjo contratado pelo pastor para fiscalizar e dedurar em quem votou.’ Quando digo isso, estou respeitando o direito da pessoa, dona do voto. Ganho muito mais do que se dissesse: ‘Vote aqui!’ Digo: ‘Se não tem candidato, tenho Alexandre Izquierdo (vereador eleito, com 33.. Mas o voto é seu e vote em quem quiser. Não é ostensivo, mas muito pontual. Se encher o saco, fizer apelo espiritual... Não digo: ‘Este é o candidato de Deus, o resto é do diabo!’
iG: Em muitas igrejas, como a Universal, o pedido de voto é explícito. O sr. faz isso também?
Silas Malafaia: A Universal já teve sete deputados estaduais (no Rio), cinco federais e quatro vereadores. Agora elegeu três vereadores. O caso do Bispo Rodrigues (deputado federal cassado, ex-líder político nacional da Universal, condenado no Mensalão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro) foi uma paulada violenta. Mas tem a questão da maneira ostensiva de pedir voto. O mais difícil não é fazer o povo acreditar, é fazê-lo se manter acreditando é a história. Pode-se manipular as pessoas por um tempo, mas não o tempo todo. Eu explico para as pessoas que podem votar em um e eleger outro. ‘Se você vota em alguém sem chance elege o outro (devido ao quociente eleitoral, número mínimo de votos de uma coligação para eleger cada vereador ou deputado). Ensino como funciona o voto majoritário. A maneira didática ajuda muito mais que impor (voto).
iG: Quem é Alexandre Izquierdo, vereador eleito no Rio com seu apoio?
Silas Malafaia: Ele foi líder da Juventude da igreja, é obreiro. É muito preparado intelectualmente. Aí, perguntei a ele: ‘Quer ser pastor ou político?’ Ele disse: ‘Tenho vontade de alcançar posições na política’. Aí decidi: ‘Vou investir nele! E falei (para os fiéis): ‘Se não tem candidato, tenho Alexandre Izquierdo. Mas o voto é seu, vote em quem quiser.
iG: O sr. acha que ainda há preconceito contra a participação de evangélicos na política?
Silas Malafaia: Tem muito preconceito contra os evangélicos. Acham que evangélico é seminanalfabeto, primário, babaca, tapado, idiota. Nego esta por fora! Na minha igreja, tem desembargadores, devo ter pelo menos 14 caras com doutorado ou cursando doutorado. Claro que eu tenho gente pobre na igreja, porque é o estrato social! Eu lancei um desafio para a garotada: o primeiro que passar para Harvard (uma das melhores universidades do mundo) a igreja banca todo o curso. Para motivar!
Essa ideia de que evangélico é babaca, semianalfabeto, tapado, idiota, eu até fico rindo! É o estrato da sociedade. Mas a igreja tem classe média. Hoje em dia pensar: ‘Ah, é bobinho, é curral de pastor!’ Vai lá! Vai nessa! Não tenho nada contra, mas vou te dar um número: se o povo da Universal fosse curral deles, eles elegeriam oito vereadores. Curral é o escambau! Se a Universal fosse curral, seriam oito vereadores (no Rio), não três!
Acham que os evangélicos são um bando de bobos, otários. Nego está por fora! Depois do advento da internet não tem mais bobo. O segmento social que mais usa a internet e as redes sociais são os evangélicos.
iG: O sr. também já apoiou deputados federais eleitos.
Simon Romero
O pastor durante culto em Fortaleza
Silas Malafaia: Botei a minha cara para três caboclos, que foram eleitos federais. Ajudei a eleger três deputados federais do Rio. O Neilson Mulim (candidato a prefeito no segundo turno em São Gonçalo), Filipe Pereira, filho do pastor Everaldo Pereira, que foi o mais forte, que mais botei a cara, e o outro de Duque de Caxias, da Igreja Metodista, que teve 28 mil votos (Áureo Lídio Ribeiro)... Esqueci o nome dele, sou ruim de nome! E o Filipe, com todo o respeito, se eu não boto a cara... Nenhum dos três é da minha igreja. São evangélicos, mas não são da minha igreja. Não precisa ser da minha igreja, não. Só meu irmão (Samuel Malafaia, deputado estadual no Rio, pelo PSD) é.
iG: De que maneira o sr. faz propaganda para eles?
Silas Malafaia: Tenho uma mala-direta de pessoas que compram comigo materiais, muito poderosa! É gente que compra materiais meus. E essa mala é muito, muito muito poderosa. Tenho 180 mil nomes no Estado, sendo 60 mil na capital. Tanto é que meu irmão – e nós botamos no programa de computador – teve votação em cidades onde não botou o pé, nem lá foi. Aí você olha na minha mala direta e tem gente lá. Teve 135 mil votos.
iG: Foi o terceiro mais votado, só atrás de Wagner Montes (528.628 votos, a maior votação do País) e do Marcelo Freixo (em 2010, o agora candidato derrotado à Prefeitura do Rio teve 177.253 votos para deputado estadual)?
Silas Malafaia: É, atrás de dois caras que... pelo amor de Deus! Um com a máquina da televisão (Montes) e outro com a imprensa dando corda para ele (Freixo). Aí não teve jeito! Não tem isso de ser mais votado. Eu quero, sim, que o cara que eu apoie para deputado não entre na rabeira, que entre. Se está entrando no meio ou na cabeça, quero que entre!
iG: E o que o senhor espera desses candidatos, uma vez eleitos?
Silas Malafaia: Espero que, primeiro, aprendam que estão lá não porque foram colocados para defender interesses dos evangélicos. Estão lá para cumprir um princípio do que acreditam da Bíblia, pela justiça social, para abençoar o necessitado. Não ser a favor de lei que prejudique os mais humildes, eles sabem disso, não são malucos! Segundo ponto é honrar o nome de quem lhes emprestou o nome, que sou eu. Eu digo para eles: ‘Amigão, não pisa (na bola) não, que se pisar, quem vai dar com o sarrafo, sou eu!’
Fábio Guimarães / Extra / Agência O Globo
Malafaia tem atacado Haddad, que define como "autor do kit-gay"
iG: E se eles fizerem algo errado?
Silas Malafaia: Eles sabem que quem vai dar o primeiro sarrafo neles sou eu! Meu nome não está à venda, por ninguém, meu irmão inclusive, meu nome não está à venda para ninguém! A Bíblia já dizia que mais vale o bom nome do que muitas riquezas. Então se um cara desses fizer besteira, vou sacudir em cima dele.
iG: Já teve algum caso desse gênero?
Silas Malafaia: Graças ao bom Deus, não, espero que não tenha! Porque se tiver, meu filho, eu não vou ter pena, eles me conhecem e sabem que sou capaz de fazer mesmo. Eu vou queimar meu nome porque nego está fazendo besteira? Eu não! Eu largo o aço em cima deles! Mas não vou ter pena e estão avisados. Vou queimar (o político)! Largo o aço em cima!
iG: Como assim, larga o aço???
Silas Malafaia: É, eu meto o pau! Digo aí: ‘Não vota mais não!’ Vou botar para quebrar em cima! Iss aí não tem dúvida nenhuma, amigo! Não tem moleza!
iG: E que contrapartida o sr. pede a eles?
Silas Malafaia: Peço que representem o povo que deu o voto a eles, a honra e o nome. Amigo, nem na época que podia empregar parente... nunca pedi para nomear ninguém. E eu tenho uma família grande para caramba, irmão. Nunca pedi nada, não quero saber disso, negócio de nomear parente. Na verdade, na época da eleição, o prefeito ou governador, bajulam todo mundo para ganhar. Quando são eleitos, durante os quatro anos, essa aqui é que é a verdade, amigo: “Quem é esse cara aí? Elegeu quem?” Então, para eles te atenderem, você tem de mostrar que você tem força política! Senão é mais um no bolo! E aí, o que acontece?
Você elege cara com boa votação, quando vier coisa de molecagem contra os nossos princípios, a gente tem voz para pressionar. É esse que é o jogo. Isso é o que eu faço. Não tem conversa: “Vai fazer essa lei aí? Vai? Então vai ver se vai ter o meu apoio!” Você vê, tanta coisa foi freada aí, em âmbito federal e tudo, por medo de nossa comunidade. Porque sabem que vamos abrir a boca. Essa é que é a verdade, nua e crua.
iG: O sr. tem contato direto com prefeitos e governadores.
Silas Malafaia: Ah, tenho! O Eduardo (Paes) me ligou hoje cedinho. Eu estava me preparando para ir para São Paulo, o telefone tocou. Eu disse: ‘Vou ligar para esse cara terça ou quarta-feira. Muita gente liga para dar parab[ens, tal e coisa. Aí hoje ele se antecipou. Me ligou cedinho. Eu tinha ligado o telefone. ‘Oi, aqui é o Eduardo, quero agradecer seu apoio. Conte comigo!’ O Eduardo é simples. Espero que não seja mordido por mosca azul, não fique besta... É um cara muito legal. Eu gosto muito dele.
Futura Press
Serra terá o apoio do pastor no segundo turno
iG: E com o Serra, como foi a conversa?
Silas Malafaia: Eu acho que a chance está com ele. O Mensalão vai ter um peso para o PT, vai bater na porta deles. De algum jeito... A classe média não atura isso não. Não dá para dar Bolsa Família para todo mundo, não. Não dá para comprar todo mundo com comida, não.
iG: Como será seu apoio a ele?
Silas Malafaia: Disse para o Serra hoje. Falei: “Serra, todo mundo já sabe que eu te apoio. Não precisa fazer nada ostensivo. Não osto de nada ostensivo, para ser honesto. Sou mais um dentre tantos, seja católico, evangélico. Eu quero isso, não quero que ache que sou o máximo, sou mais um entre tantos.
iG: Vai gravar vídeo de apoio para ele na TV?
Silas Malafaia: Não, eu acho que não precisa, para te ser honesto. Eu disse ao Serra hoje (9): ‘Todo mundo já sabe que eu te apoio. Não precisa de nada ostensivo. Eu não gosto de nada ostensivo.' Sou mais um entre tantos, católicos, evangélicos. Eu quero isso! Não acho que sou o máximo, sou mais um entre tantos, não preciso de tanta firula, não. Acho que não precisa gravar (programa na TV), para ser honesto. (Nesta quinta-feira, 11, ele publicou vídeo contra o adversário de Serra, Fernando Haddad) Quando fica muito acintoso não é bom. Sabe: ‘Você é candidato de todos, sabe?’ Eu não acho que seja necessário gravar. O povo em São Paulo é muito maduro, esta percebendo todo esse jogo.

domingo, 7 de outubro de 2012

Sinal de vida - Fernando Henrique Cardoso


Sinal de vida

TAMANHO DA FONTE: A-A+
Tenho dito e escrito que o Brasil construiu o arcabouço da democracia, mas falta dar-lhe conteúdo. A arquitetura é vistosa: independência entre os poderes, eleições regulares, alternância no poder, liberdade de imprensa e assim por diante. Falta, entretanto, o essencial: a alma democrática. A pedra fundamental da cultura democrática, que é a crença e a efetividade de todos sermos iguais perante a lei, ainda está por se completar. Falta-nos o sentimento igualitário que dá fundamento moral à democracia. Esta não transforma de imediato os mais pobres em menos pobres. Mas deve assegurar a todos oportunidades básicas (educação, saúde, emprego) para que possam se beneficiar de melhores condições de vida. Nada de novo sob o sol, mas convém reafirmar.
Dizendo de outra maneira, há um déficit de cidadania entre nós. Nem as pessoas exigem seus direitos e cumprem suas obrigações, nem as instituições têm força para transformar em ato o que é princípio abstrato. Ainda recentemente um ex-presidente disse sobre outro ex-presidente, em uma frase infeliz, que diante das contribuições que este teria prestado ao país não deveria estar sujeito às regras que se aplicam aos cidadãos comuns… O que é pior é que esta é a percepção da maioria do povo, nem poderia ser diferente porque é a prática habitual.
Pois bem, parece que as coisas começam a mudar. Os debates travados no Supremo Tribunal Federal e as decisões tomadas até agora (não prejulgo resultados, nem é preciso para argumentar) indicam uma guinada nesta questão essencial. O veredicto valerá por si, mas valerá muito mais pela força de sua exemplaridade. Condene-se ou não os réus o modo como a argumentação se está desenrolando é mais importante do que tudo. A repulsa aos desvios do bom cumprimento da gestão democrática expressada com veemência por Celso Mello e com suavidade, mas igual vigor, por Ayres Britto e Cármen Lúcia, são páginas luminosas sobre o alcance do julgamento do que se chamou de “mensalão”. Ele abrange um juízo, não político-partidário, mas dos valores que mantém viva a trama democrática. A condenação clara e indignada do mau uso da máquina pública revigora a crença na democracia. Assim como a independência de opinião dos juízes mostra o vigor de uma instituição em pleno funcionamento.
É este, aliás, o significado mais importante do processo do mensalão. O Congresso levantou a questão com as CPI’s, a Polícia Federal investigou, o Ministério Público controlou o inquérito e formulou as acusações e o Supremo, depois de anos de dificultoso trabalho, está julgando. A sociedade estava tão desabituada e descrente de tais procedimentos quando eles atingem gente poderosa que seu julgamento – coisa banal nas democracias avançadas – se transformou em atrativo de TV e do noticiário, quase paralisando o país em pleno período eleitoral. Sinal de vida. Alvíssaras!
Não é a única novidade. Também nas eleições municipais o eleitorado está mandando recados aos dirigentes políticos. Antes da campanha acreditava-se que o “fator Lula” propiciaria ao PT uma oportunidade única para massacrar os adversários. Confundia-se a avaliação positiva do ex-presidente e da atual com submissão do eleitor a tudo que “seu mestre” mandar. É cedo para dizer que não foi assim, pois as urnas serão abertas esta noite. Mas ao que tudo indica, o recado está dado: foi preciso que os líderes aos quais se atribuía a capacidade milagrosa de eleger um poste suassem a camisa para tentar colocar seu candidato no segundo turno em São Paulo. Até agora o candidato do PT não ultrapassou nas prévias os minguados 20%.
No Nordeste, onde o lulismo com as bolsas-família parecia inexpugnável, a oposição leva a melhor em várias capitais. São poucos os candidatos petistas competitivos. Sejam o PSDB, o DEM, o PPS, sejam legendas que formam parte “da base”, mas que se chocam nestas eleições com o PT, são os opositores eleitorais deste que estão a levar vantagem. No mesmo andamento, em BH, sob as vestes do PSB (partido que cresce) e em Curitiba são os governadores e líderes peessedebistas, Aécio Neves e Beto Richa, que estão por trás dos candidatos à frente. Em um caso podem vencer no primeiro turno, noutro no segundo.
Não digo isso para cantar vitória antecipada, nem para defender as cores de um partido em particular, mas para chamar a atenção para o fato de que há algo de novo no ar. Se os partidos não perceberem as mudanças de sentimento dos cidadãos e não forem capazes de expressá-las essa possível onda se desfará na praia. O conformismo vigente até agora, que aceitava os desmando e corrupções em troca de bem estar, parece encontrar seus limites. Recordo-me de quando Ulysses Guimarães e João Pacheco Chaves me procuram em 1974, na instituição de pesquisas onde eu trabalhava, o CEBRAP, pedindo ajuda para a elaboração de um novo programa de campanha para o partido que se opunha ao autoritarismo. Àquela altura, com a economia crescendo a 8% ao ano, com o governo trombeteando projetos de impacto e com a censura à mídia, pareceria descabido sonhar com vitória. Pois bem, das 22 cadeiras em disputa para o Senado o MDB ganhou 17.. Os líderes democráticos da época sintonizaram com um sentimento ainda difuso, mas já presente, de repulsa ao arbítrio.
Faz falta agora, mirando 2014, que os partidos que poderão eventualmente se beneficiar do sentimento contrário ao oportunismo corruptor prevalecente, especialmente PSDB e PSB, se disponham cada um a seu modo ou aliando-se a sacudir a poeira que até agora embaçou o olhar de segmentos importantes da população brasileira. Há uma enorme massa que recém alcançou os níveis iniciais da sociedade de consumo que pode ser atraída por valores novos. Por ora atuam como “radicais livres” flutuando entre o apoio a candidatos desligados dos partidos mais tradicionais e os candidatos destes partidos. Quem quiser acelerar a renovação terá de mostrar que decência, democracia e bem estar social podem novamente andar juntos. Para isso, mais importante do que palavras são atos e gestos. Há um grito parado no ar. É hora de dar-lhe conseqüência.